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EDUCAÇÃO E VISUALIDADE: A IMAGEM COMO OBJETO DO CONHECIMENTO

Foi-se o tempo em que a imagem era vista como uma impossibilidade cognoscível, tanto no que tange ao fato de não ter as qualidades necessárias para representar e mostrar algo sobre a realidade, quanto porque não figuraria como uma mediação social, cultural e econômica entre os indivíduos membros de certa sociedade. Essa concepção, alimentada pela hegemonia da escrita, foi, gradativamente, sendo arrefecida, desacreditada e rejeitada. A imagem visual, hoje, é posicionada como uma dentre outros artefatos culturais constitutivos da sociabilidade. Par e passo, isolada ou articuladamente, caminham a escrita, o som e a imagem.

A desconstrução desse entendimento e a emergência do signo-imagem, no cenário da cultura visual, erigiram a imagem visual ao status de objeto epistêmico, sobre o qual devem se debruçar diferentes domínios do conhecimento, dentre os quais, os domínios pertencentes à área das Ciências Humanas, como a Filosofia, Antropologia, a História, a Sociologia, as Artes Visuais, a Semiótica, a Análise do Discurso, a Hermenêutica, as Ciências da Religião e a Pedagogia, por exemplo.

Alinha-se a esse movimento a presente Coletânea - ‘Educação e visualidade: a imagem como objeto do conhecimento’- composta de oito escritos, com a colaboração de onze autores, que tratam da problemática da imagem e sua relação com a educação no contexto da sociedade brasileira. Os autores são professores de universidades federais e estaduais, da rede pública e estudantes da pós-graduação e graduação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), todos envolvidos em atividades de ensino, pesquisa ou extensão e articulados a grupos de pesquisas, o que denota o compromisso institucional com o assunto. Essa realidade que tem sido vivenciada por cada participante e tem sido a fonte inspiradora de mais uma Coletânea, posterior às três anteriores, a saber: “Educação e visualidade: reflexões, estudos e experiências pedagógicas com a imagem (2008)”, “Por uma pedagogia crítica da visualidade (2010)” e “A importância do ato de ver” (2011).

Cada um dos escritos da Coletânea atual enfoca, a seu modo, a questão da educação e da visualidade e discute a imagem como objeto do conhecimento. A riqueza de perspectiva e de aspectos abordados evidencia a existência de um terreno de reflexão, estudo, ensino e pesquisa que está muito longe de se esgotar. Na verdade, apresenta-se como um solo fértil e produtivo, emergente e edificante, pleno de potencialidades epistêmicas e pedagógicas. Como será comprovado pelo leitor, ao folhear as páginas do livro, a cultura visual se apresenta como uma realidade que deve ser enfrentada e trabalhada de maneira competente, crítica e responsável. Esse é, por exemplo, um sentimento que fica ao se ler cada um dos escritos da Coletânea.



A IMPORTÂNCIA DO ATO DE VER 

A vida carece de sensibilidade. A Sensibilidade é sempre sensação de algo que existe empiricamente. Algo que é capturado e apreendido por meio de um dos sentidos, que reage ao estímulo exterior, tendo em vista respondê-lo de tal modo que, na relação estímulo-resposta, uma necessidade concreta seja satisfeita. Por isso, a sensibilidade é, em si, uma forma natural e concreta de se conhecer o mundo. Ver é uma expressão singular da sensibilidade. Ver é sentir e sentir é conhecer. Visão, sensação e conhecimento são termos que se relacionam e se constituem. Neste sentido, ver é uma sensação importante para o conhecimento empírico do mundo concreto e para o atendimento das necessidades existenciais do mundo natural e social. Desejamos que a leitura deste livro contribua para o reconhecimento da importância do ato de ver. Que aprendamos a ver, assim como aprendemos a ler. Que ensinemos a ver, assim como ensinamos a ler. Aprender e ensinar a ver são, indubitavelmente, uma necessidade do nosso tempo, marcado pela cultura visual e pela ordem do signo da imagem.



POR UMA PEDAGOGIA CRÍTICA DA VISUALIDADE 

A expressão pedagogia crítica da visualidade também se insere no mundo educativo em que vivemos e se apresenta, atualmente, como uma alternativa possível de se problematizar, analisar e investigar a prática educativa; de se configurar e ressignificar o currículo escolar; de se conceber, produzir e circular o saber socialmente aceito; de se organizarem os lugares sociais de aprendizagem; de se ler e se olhar criticamente o mundo; de se potencializar a ação comunicativa e de se apoderar dos sujeitos sociais para o exercício concreto de suas lutas específicas; de se veicularem valores, ideologias e mercadorias no mundo globalizado. Em suma, o verbete pedagogia crítica da visualidade, não é um simples neologismo ou vocábulo sem valor pedagógico. Ele é o signo de mais um modo singular de se pensar e se fazer educação, em lugares diferenciados, com sujeitos distintos, ontologicamente situados no tempo e no espaço sócio-histórico da cultura midiática contemporânea: lugar em que a imagem ganha relevância e centralidade indiscutível. Além de se inserir nesse cenário, o presente livro, que resolvemos nomear de Por uma pedagogia crítica da visualidade, é a continuidade da linha de reflexão e investigação que estamos empreendendo no Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba, sistematizada na Coletânea organizada em 2008, intitulada Educação e visualidade: reflexões, estudos e experiências pedagógicas com a imagem, resultantes de um conjunto de atividades oriundas do campo do ensino, da pesquisa e da extensão, assentadas no reconhecimento da relevância da imagem na sociedade contemporânea de suas implicações no horizonte sociocultural da educação.




Educação e Visualidade: reflexões,estudos e experiências pedagógicas com a imagem. 



O fazer cotidiano do professor e o estudante universitário pauta-se numa série de atividades institucionais (ensino, pesquisa, extensão e gestão), cuja riqueza epistêmica nem sempre é considerada como matéria-prima do conhecimento aprendido e produzido.  Com o passar do tempo, como o deslocamento nos múltiplos espaços acadêmicos e com a realização de ações dispersas, visando atender a demandas imediatas, estudantes e professores acabam por perder de vista os rastros de suas histórias profissionais, por esquecer um rol de elementos acadêmicos que confeririam sentido e inteligibilidade à subjetividade e à visão de mundo que foi sendo tecida no ‘aqui’ e no ‘agora’ de sua existência acadêmica, marcando, assim, o seu próprio ser pessoal e profissional.  Na contramão desse processo, o presente livro, intitulado de ‘Educação e visualidade: reflexões, estudos e experiências pedagógicas com a imagem’, tem um duplo o objetivo. O primeiro é o de servir como um incentivo para que reflitamos sobre a necessidade de pensar o nosso fazer, sistematizá-lo e escrevê-lo; o segundo, o de registrar, organizar e compartilhar algumas reflexões, estudos e experiências sobre a imagem na cultura contemporânea, suas implicações no campo da educação e, em especial, sobre as novas demandas da cultura visual e midiática suscitadas sobre a formação dos educadores.